terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Hoje é Carnaval

Por Almir Quites


Bom dia, hoje é Carnaval. Alegria, alegria!

🎷 Quanto riso, oh, quanta alegria!  ♪   Mais de mil palhaços no salão!  ♪   🎺

Vamos rir de nós mesmos, de nós que não temos motivo algum para esta alegria. 

Fazemos um carnaval para não enfrentar nossos problemas! Não é engraçado? Qua, qua, qua, qua, qua! (Nota: isso era no meu tempo, hoje é kkkkk!)

Eu não entendo bem este fenômeno, apenas o constato. 

No Brasil, festa popular é coisa sagrada. Morre-se por ela, infelicita-se por ela, paga-se por ela, para assim esquecer de nossos reais problemas. É como dar uma estraçalhante martelada no dedão do pé para esquecer da incômoda dor de cabeça. Não é engraçado? Kkkkk!

Dizem que o avestruz também faz algo similar. Enfia a cabeça num buraco para não ver o perigo e, assim, sentir-se protegido.

Alegria, alegria, alegria! Hoje é CARNAVAL!


Carnaval é ilusão. Os brasileiros se iludem até mesmo com o seu significado. Acreditam que o mundo inteiro aprecia a nossa festa. Ledo engano! É verdade que os turistas dizem que a adoram, mas temos que entender que eles estão em nosso país como visitantes e se policiam para não nos ofender. Por exemplo, os turistas alemães (os quais conheço melhor) vêm aqui para assistir algo exótico, primitivo, que expõe os mais entranhados instintos. Eles até participam da folia, procuram imitar os brasileiros, mas, podem ter certeza, eles não querem este tipo de festa lá na Alemanha.

Para os europeus, a América Latina é tão atrasada quanto a África. Eles também apreciam a África como algo exótico.

Já ouvi muitas vezes o argumento que o sofrido povo brasileiro merece ter estes quatro dias de Carnaval, no qual consegue se esquecer de toda essa deprimente corrupção feita pelos políticos. Não concordo!

Só quatro dias? Quatro dias foi no meu tempo. Hoje o carnaval começa muito antes da tradicional pré-quaresma. Há folias já no início do ano. Do Natal até o final do Carnaval, o Brasil quase para, poucos trabalham, mas os corruptos continuam sugando os recursos do Estado até mais a vontade, porque este é um período em que eles são esquecidos.

Não posso concordar com este argumento cujo pressuposto é: o brasileiro é apenas a vítima. O povo também é responsável pela corrupção. O Brasil é o povo junto com seu território. Mais alienação só agrava o problema. 

A verdade é que o povo brasileiro gosta de frivolidades. É muito fácil constatar isto. Por exemplo, a televisão brasileira, para ter audiência, só faz programas simplistas. É futebol, novelas de intrigas, filmes de brigas, tiroteios, bandidagem e programas de auditório. Um programa sobre um tema mais sério não terá audiência. É fácil perceber que a propaganda veiculada pela TV é feita sob medida para débeis mentais!

O povo brasileiro é condicionado, desde tenra idade, para esperar benesses do governo e de Deus. Prefere rezar, pedir, esperar... Assim o tempo passa enquanto a vitalidade de cada brasileiro declina.

O povo brasileiro é sofrido porque não se une para enfrentar seus problemas. A corrupção voa livremente nesta alienação popular.

Enquanto isso, outros povos, aqueles que fiscalizam os governantes e também cada cidadão (cada um fiscaliza o outro), estes constroem um país melhor para todos. Estes povos, mais civilizados, não toleram que alguém jogue no chão um simples papelzinho de bala! Estes são muito mais evoluídos e felizes. São eles que desenvolvem a sociedade e a tecnologia que nós temos que comprar.

Quem ri por último são eles! Nós, brasileiros, somos apenas os bobos. Nossa miséria tem, como principal ingrediente, a nossa tolice. Somos facilmente enganados e mesmo doutrinados. Somos facilmente fanatizados. Acreditamos em ideologias apregoadas por aqueles que nos exploram. 

Entregamos o ouro aos bandidos como uma criança que ainda não sabe o valor de seus bens. Pagamos um dos mais altos impostos do mundo. Em cada produto que compramos, o imposto está embutido. Assim alimentamos os governos corruptos e ficamos esperando... simplesmente esperando... Não acreditamos que nossos heróis nos roubem. Batemos pé e bradamos que nossos heróis, ainda que estejam no poder, não nos roubam absolutamente! Quem nos rouba é sempre a oposição ao nosso partido. O nosso partido político é o "mocinho do filme", o "good boy". Da mesma forma, o nosso time de futebol é o melhor do mundo, ainda que dispute a enésima divisão! 

Assim, irmanados nesta ilusão fazemos coro: Viva o carnaval brasileiro! Viva o Brasil, o melhor país do mundo!

No final do Carnaval, estaremos mais pobres. Teremos gasto muito dinheiro, teremos consumido muita bebida e drogas, danificando nosso corpo, principalmente o nosso cérebro. Poucos lucram, muitos empobrecem. O país estará mais sujo. Nossos recursos serão usados para pagar empresas que vão ter que fazer a limpeza. Muita gente estará mais doente e novos contaminados estarão perambulando por aí, todos esperando por atendimento no nosso precaríssimo sistema de saúde. 

O legado deste Carnaval, legado que não queremos conhecer, será pior do que o das Olimpíadas do Rio de Janeiro, ou da Copa do Mundo de Futebol no Brasil. 

A avaliação do legado do Carnaval é mais complexa do que normalmente se imagina. Ela deveria, por um lado, incluir as consequências culturais e não se restringir aos fugazes prazeres e entretenimentos que a festa proporciona, mas sim priorizar a capacidade emancipatória de sua produção cultural. 

Nosso Carnaval é também uma enorme drenagem de recursos públicos para o setor privado, a qual o povo tolamente não só aplaude como exige. 

As consequências negativas de tudo isso virão inexoravelmente recair sobre o povo brasileiro!

Hoje é Carnaval. Alegria?

Depois, mais sóbrio, leia aqui:
TODO O PODER EMANA DO POVO
http://almirquites.blogspot.com.br/2016/08/todo-o-poder-emana-do-povo.html


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