terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Política e decepções pessoais

Por Almir Quites - 12/12/2016


Não sei se penso ou escrevo.

Penso no passado, quando eu, meus amigos e colegas ficávamos angustiados com a corrupção no Brasil e nem suspeitávamos que ela poderia ser muito maior do que imaginávamos. Sim, vou escrever sobre isso.

Alguns dos meus amigos e colegas eram apegados demais à "esquerda", mas o entendimento deles sobre "esquerda política" diferia do meu. Para mim, estes conceitos, esquerda e direita, eram tão precários, até infantis e tão mal usados, que não havia diferença entre "direita & esquerda" e "situação & oposição". Quantas desavenças e mesmo brigas ocorriam por nada!




Na idade da pedra a concepção do universo era assim: abaixo de um plano horizontal infinito, ficava a terra e, acima, ficava o céu.

Como era singelo aquele universo! Hoje sabemos o quanto o universo real é complexo e ainda desconhecido.

Para muitos, o modelo do espectro político é ainda tão simples quanto o universo da idade da pedra. Para eles é assim: à esquerda ficamos nós, os cidadãos direitos e conscientes, nós que sempre temos razão e que, por isso, devemos ter todos os direitos; à direita ficam eles, que não são direitos, nunca têm razão e, por isso, não devem ter direitos; a esquerda é monolítica, todos tem exatamente a mesma ideologia, repetem os mesmos mantras e, na direita, também monolítica, todos têm a ideologia contrária. Estes dois lados são inimigos irreconciliáveis.

Como é singelo este conceito político que parece ser da "idade da pedra"! Apenas dois blocos monolíticos iguais e de sinais contrários. Podem ser representados por apenas dois pontos separados entre si: eles e nós.

Geralmente nem suspeitam da possibilidade de uma gradação entre estes dois pontos. Os que concebem esta possibilidade, pelo menos, já conseguiram evoluir para uma concepção linear. Para estes, a política deixa de ser pontual e passa a ser unidimensional, ou seja, vai da extrema esquerda até a extrema direita, mas sempre em cima do mesmo trilho. Ainda é um modelo exageradamente simples.

A política real é multidimensional. Assim como o espaço, não se resume em "à esquerda - à direita", "atrás - à frente", "abaixo - acima". A rigor, cada valor humano corresponde a uma dimensão do espectro político, que não é estático, mas dinâmico. Em todas as dimensões, há variações, de pessoa a pessoa, com o tempo.

Veja na figura seguinte uma representação em apenas 3 dimensões de espaço e uma de tempo (da Teoria das Cordas). Atente ao nível de complexidade. Imagine agora como seria um modelo das variações de um espectro político. Um assombro!
Apenas 4 dimensões: três de espaço e uma de tempo.
(Apenas uma rotação sem mudança de forma)

Qualquer ideologia é simplória, totalmente inadequada para representar a realidade de um espectro político. Não vale a pena se apegar a uma delas. Não brigue por ideologias!

Eu, meus amigos e colegas sempre nos indignamos com a impunidade reinante no Brasil. Daquele jeito, o país não teria jeito! 

Bem, confesso que sempre me pareceu que era isso o que nos unia, a profunda repugnância pela corrupção. Hoje vejo que eu estava errado.

Acontece que os tempos mudaram.

Finalmente, surgiu uma forte esperança. O Brasil começou a acordar para a sua realidade quando os juízes de primeira instância e o Ministério Público começaram a investigar e a punir os empresários e políticos poderosos, mesmo contra a vontade dos governantes e dos tribunais superiores.

As redes sociais quebraram o monopólio da informação, mas não souberam evoluir com isso! A desinformação é tao grande quanto a informação. Chegam a atrapalhar aqueles que realmente se arriscam e trabalham duro para salvar o país.

Contudo há muita gente competente que começa a se unir e a trabalhar em conjunto. Começamos a ver uma luz no fim do túnel.

Isto devia ser motivo de entusiasmo, de orgulho e regozijo. Afinal, há quem lute pelo Direito, mesmo correndo riscos. É preciso apoiá-los! Mas, muitos dos meus amigos... decepcionaram-me! É triste!

Muitos dos meus amigos e colegas, agora defendem os bandidos e atacam os juízes e promotores que lutam contra a impunidade! Por que? Algo está muito errado.

O juiz Sergio Moro é o alvo principal! É tratado como um tirano. Isto não faz sentido! Ele é apenas um juiz de primeira instância! Não é ele quem investiga e oferece a denúncia! Suas decisões são confirmadas por, pelo menos, outros seis juízes, sendo três desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) e três ministros do STJ. No caso do réu ter Foro Privilegiado, o caso ainda vai para o STF! 

Sérgio Moro apenas cumpre o seu dever.

Moro é só o juiz, que julga um processo. O conflito é entre o povo brasileiro (como vítima de roubo dos recursos públicos) e o réu, que é denunciado por peculato pelo Ministério Público (MP). O MP representa o povo e apresenta as provas. O juiz julga!

Além do mais, Sérgio Moro é apenas um dos juízes. Há muitos outros atuando com a mesma eficiência!

Pensando um pouquinho, no entanto, fica claro que este comportamento estranho de meus amigos e colegas é imposto pelo fanatismo (sobre isto, indico um artigo ao final deste). Os bandidos poderosos eram aqueles mesmos que meus amigos e colegas veneravam. Muitos daqueles amigos e colegas, na verdade, não combatiam a impunidade, mas defendiam os ídolos deles, agasalhados por um partido ou uma facção ideológica. Aceitar as boas novas implica em reconhecer o erro antes cometido e isto, para um crente, é muito doloroso. A fuga da realidade foi preferida. Como são complexas as idiossincrasias humanas!

Alguns dos meus amigos e colegas, no entanto, conseguiram superar, em parte, a barreira do fanatismo, especialmente neste final de 2016. No entanto, não conseguem deixar de acrescentar "Todos os políticos são ladrões, de todos os partidos", como uma auto indulgência. A mensagem subliminar é "Todos erraram, não fui apenas eu".

Bastou que uma só das delações, das 77 da Odebrecht, viesse à público para que muitos conhecidos meus, que ainda chamavam o impeachment de Dilma Rousseff de "GOLPE", despertassem, "caíssem na real". Parece que finalmente entenderam que o que estava em jogo não era "PT X PSDB" ou "Esquerda X Direita" ou "Nós X Eles".

Fiquei contente que tenham finalmente descoberto que o Brasil é governado por uma grande quadrilha de colarinho-branco, composta por gente com codinomes de ocultação como Feia, Caju, Justiça, Boca-mole, Gripado, Primo, Las Vegas, Caranguejo, Comuna, Moleza, Gremista, Campari, Botafogo, Santo, Velhinho etc.

O povo paga os impostos que estes caras roubam. No entanto, isto já é assim há, pelo menos, 13 anos, como bem demonstrou a Ação Penal 470 (conhecida como "Mensalão").

Quem levou estes corruptos para o Governo Federal? Quem defendeu e sustentou este pessoal nas discussões políticas, identificando-os como "de esquerda"? Por que só agora foi possível abrir os olhos para a realidade? O submundo da política brasileira estava visível, às claras, porque, de tão grande, não era possível escondê-lo.

O que é triste é que agora é muito tarde! Nossos maus políticos já elevaram ao extremo a insegurança jurídica.

Já não há confiança nem mesmo para se realizar investimentos pequenos, não há segurança para fechar nem mesmo pequenos negócios, nem para firmar um contrato de previdência privada, por exemplo. Neste ambiente, também já não há possibilidade de se implantar qualquer das necessárias grandes reformas, como a da Previdência, da Educação, da Administração Pública e a do Poder Judiciário. De que adianta o apoio maciço de parlamentares corruptos? Os seus grandes interesses permanecerão intocáveis.

A mais importante de todas as medidas saneadoras seria a implantação de uma Constituinte Exclusiva. Precisamos refazer a Constituição de 1988, que não tem nada de "cidadã" (como Ulisses Guimarães proclamou), porque foi feita por políticos e para os políticos. Não acredito que estes políticos de alcunhas mambembes permitam que esta ideia prospere.

O Brasil pode descambar para uma conflagração popular. A explosividade é alta. Há uma infinidade de estopins!

`°•○●□■♢☆ compartilhar dá sorte ☆♢■□●○•°`



Para ler mais sobre FANATISMO, clique aqui:


`°•○●□■♢☆ compartilhe usando os botões abaixo ☆♢■□●○•°`


Mais artigos deste "blog" ("weblog")
Clique sobre o título.


_______________________________________________________________
Aviso sobre comentários:
Comentários contra e a favor são bem vindos, mesmo que ácidos, desde que não contenham agressões gratuitas, meros xingamentos, racismos e outras variantes que desqualificam qualquer debatedor. Fundamentem suas opiniões e sejam bem-vindos.
Por favor, evite o anonimato! Escreva o seu nome no final do seu comentário.
Não use CAIXA ALTA, isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente.
Obrigado pela sua participação!

Volte sempre!
_______________________________________________________________
 COMPARTILHE ESTA POSTAGEM   
 USE OS BOTÕES ABAIXO 


domingo, 11 de dezembro de 2016

Submissão ou ignorância do STF

Por ALMIR QUITES - 10/12/2016


Abuso do STF, submissão ou mera ignorância? O que é pior?
Imagem adaptada de ⇾ http://blique-oblogdoique.blogspot.com.br/2013/09/
Nós, brasileiros, temos demasiada tolerância com a desonestidade e com a incompetência. O artigo, cuja leitura recomendo ao final, mostra que Renan Calheiros, atual presidente do Senado, não possui os requisitos legais nem para ser funcionário público, mas permanece como Presidente do Senado Federal e do Congresso Nacional. É de pasmar que este senador tenha poderes para intimidar o Supremo Tribunal Federal!

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Banalização da improbidade

Almir Quites - 08/12/2016


Vivi alguns anos num país em que as profissões de maior prestígio eram a de professor e a de servidor público, em ambos os casos, em todos os seus níveis. Acostumado com a banalização da improbidade administrativa do Brasil, isto me surpreendia!

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

STF, órgão submisso ao Poder

Por Almir Quites - 08/12/2016 (artigo que publiquei ontem em meu Facebook).


Pois foi o que aconteceu. Renan Calheiros venceu e o Brasil perdeu! Renan apenas está impedido de substituir o presidente da República. Portanto, a partir de agora, em qualquer impedimento do atual presidente, quem assumirá temporariamente o comando do país será a presidente do STF, Cármen Lúcia.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

A insustentável leveza da hipocrisia

Por Almir Quites - 06/12/2016


A hipocrisia é insustentável. Os acontecimentos podem desnudá-las a qualquer momento. 

Estamos diante de uma crise tão profunda que as máscaras dos maus estão caindo. Nesta semana, caem especialmente as dos membros do Congresso Nacional e da cúpula do Poder Judiciário. 

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Insegurança jurídica e explosividade institucional

Por Almir Quites - 06/12/2016


Uma profunda crise de legitimidade se estende sobre os três poderes da república. A desesperança popular alcança níveis nunca vistos. A insegurança jurídica se agrava. A explosividade institucional cresce e torna-se mais incontrolável!

A explosividade brasileira

Por Almir Quites - 05/12/2016

Conforme nos mostra a História, os maus governantes costumam não perceber quando a tensão social aumenta, indicando a possibilidade de explosão. O exemplo clássico disto aconteceu na França, no final do século XVIII. Durante o reinado de Luís XVI, a França passava por uma grande crise financeira, o povo estava exausto, mas os governantes continuaram com suas mordomias, subestimando os movimentos sociais. Explodiu a Revolução Francesa e a monarquia acabou. 

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

A desesperança

Por Almir Quites - 01/12/2016


Estávamos apreensivos! 

O povo exigia que o Congresso fizesse leis contra a corrupção, mas temia que, ao invés disto, ele aprovasse uma indecente anistia aos corruptos. Então...

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

O decepcionante Congresso brasileiro

Por Almir Quites - 01/12/2016


O que aconteceu na Câmara Federal na madrugada de ontem, sob o comando de Rodrigo Maia, foi uma gigantesca ignomínia, um absurdo sem precedentes. 

Como você se sentiria se o Congresso Nacional aprovasse uma "Lei do Assassinato Livre", pala qual o assassinato deixasse de ser crime e todos os assassinos fossem anistiados? Você se sentiria no dever de respeitar esta lei? Não foi isto que o que aconteceu, mas foi algo equivalente.

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Duplo luto

Por José J. de Espíndola* - 30/11/2016



Prezadas & Prezados;

Hoje é dia de duplo luto para os brasileiros que prestam.

O primeiro luto se refere, claro, ao trágico acidente aeronáutico que matou 71 pessoas, praticamente dizimando o time da Chapecoense. Sobre esta desgraça nada mais se pode fazer além de lamentar as mortes, consolar os parentes e torcedores, periciar o acidente determinando as suas causas, eventualmente mudando protocolos de segurança e punindo, se for o caso, os responsáveis.

Legislar em causa própria é crime

Por Almir Quites - 30/11/2016


As “Dez Medidas” apresentadas pelo Ministério Público para combater a desmedida e irrefreada corrupção brasileira, legitimadas como projeto de Iniciativa Legislativa Popular, chegaram ao Congresso como ultimátum da sociedade brasileira aos seus maus representantes. Estes, no entanto, apavorados, só conseguem agir segundo seu envenenado DNA. Trataram de desvirtuar o projeto pela inclusão de "jabutis-capangas".

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Sorrateiros, deputados e senadores trabalham...

Por Almir Quites - 28/11/2016



Sorrateiros, deputados e senadores trabalham contra o Brasil. Pretendem apresentar no Plenário da Câmara, proposta que corrompe as 10 medidas contra corrupção. A situação é tão grave que o povo precisa reagir e pode começar pelas redes sociais.

Busca pelo mês

Almir Quites

Wikipedia

Resultados da pesquisa